quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Feijoada completa

Imperador
imagem: Housewives Tarot Decks Paul Kepple & Jude Buffum - Quirk Books

Tarô, como se aplica essa ferramenta oracular? Não é difícil para aquele que se interessa em pressagiar através dele, entender suas questões e aplicações mais simples, inicialmente. Porém nada ocorre magicamente, sem estudo, boa prática e troca de idéias. Vale ressaltar que Tarô é um estudo para a vida inteira. Ele retrata na forma de ciclos a jornada de qualquer um que o procura, entre suas vinte e duas lâminas de Arcanos Maiores. Mostrando uma sinopse dos momentos, no jargão nosso de cada dia: “lerá sua alma”, através de atributos evolutivos e sintomáticos

Os “Maiores” possuem uma marca de complexidade nos ornamentos simbólicos, e se lançarão a um dos níveis ou planos holísticos de nossa vida; a saber, são quatro: Material, Mental, Sentimental e Espiritual, e suas abstrações poderão ser incomensuráveis, portanto o que ajuda a dar sustentação são os fatores: Pergunta (em que plano reside) + Método + Arcanos (Maiores + Menores = ajuda mais ainda!) para obtermos as respostas.

A fórmula dos quatros elementos foi herdada e aplicada do pensamento grego (Aristóteles 384-322 a.C.), que pressupunha que todas as coisas eram compostas de quatro manifestações, cada qual com características distintas, porém inseparáveis. O pensamento ocultista medieval seguiu esta abordagem. Por associações se foi empregando e discernindo que o holístico - o conjunto do todo - passa por estes planos de ligação e interação. A parte não é separada do todo, mesmo quando vista isolada.

Cada Arcano Maior traz em si estas manifestações, e a opção para uma resposta mais eficaz e certeira é a de nos atermos ao plano da pergunta formulada. Sem misturar atributos de um plano em outro, ou seja, numa pergunta sobre o plano material, não agregar na resposta atributos de outros níveis. As vezes a tentação surge só porque se tem uma palavra chave para aquele Arcano mais estigmatizado por alguns... estudantes, praticantes ou mesmo instrutores da “Arte”.

Por exemplo, o Arcano VI - O Amoroso ou Enamorado, é visto como dúvida, e as vezes não importa o nível, sendo que um dos seus atributos centrais é o de escolha. Escolha pelo livre-arbítrio, como diz minha pessoal amiga e Taróloga/Astróloga de plantão: poder de escolha. Será dúvida sim, mas no plano mental

Teremos bem apreciados dentro do segundo conjunto, os Arcanos Menores, onde cada Naipe tão conhecido do baralho comum se apresenta: Ouros/Material, Espadas/Mental, Copas/Emocional e Paus/Espiritual. Existem outras ligações ou analogias que poderia comentar com mais detalhes aqui no ócio produtivo, mas pelo bem do que proponho fazer aqui, ficarei com o que temos para o Tarô, como a seqüência de interligação com os elementos ou quatro reinos da natureza: Terra/Material - Ar/Mental - Água/Sentimental - Fogo/Espiritual. Notório são os movimentos quaternários na estrutura do Tarô, e riquíssimos são os diálogos pelo foco hermético e filosófico e as tangências permitidas então.
feijoadaOs Arcanos Menores, são símbolos estruturados com atributos sinalizadores e divididos (como citado acima) em quatro níveis, e sua característica é a simplicidade e objetividade. Não há neles as complexidades dos Arcanos Maiores, simploriamente são o que são, e numa leitura com Tarô completo – um Maior e um Menor ou estilo europeu de tiragem – obtemos os detalhes do avaliado, ou a fofoca. Para muitos, é um desafio esta alquimia para leituras. 

Este conjunto, dos Menores, possui uma série de quatorze lâminas, sendo dez numeradas: do Ás (quantitativo um) até o Dez. Cada naipe acompanha quatro figuras: Pajem, Cavaleiro, Rainha e Rei. Isto em referência aos signos do Simbolismo Clássico, vertente que o herege que vos escreve segue. Muitas literaturas sobre o tema possuem outros nomes/signos:

Pajem: Valete; Escravo; Princesa; Criança.
Cavaleiro: Príncipe; Sábio.
Rainha: Dama; Mulher.
Rei: Homem; Governante; Cavaleiro. Cavaleiro? Sim em alguns conjuntos clonados do Tarô de Crowley, o Rei tem este signo. 

Mudam os signos, mas o significo básico permanece o mesmo. As Figuras da Corte são vistas geralmente como pessoas que influenciam a questão analisada, mas há também aqueles que vêem essas figuras como situações. Nesta parte existem algumas controvérsias entre autores e também entre praticantes. Contudo, se analisarmos as figuras como pessoas de influência não deveremos acrescentar interpretações de situações no mesmo jogo e vice-versa. Escolha pessoa ou situação, jamais as duas simultaneamente.

Muito comum o estudante e praticante, ao se iniciar na “Arte”, fixar os Arcanos com palavras-chave/atributos. Fato que, de início, facilita assimilar certos aspectos numa leitura, mas com o passar da prática, estigmatiza a maioria das lâminas. E folgando na preguiça, fica arriscado seguir decorebas ou “receitas de bolo”, generalizando combinações, empobrecendo o sortilégio e despencando entre falhas e equívocos de interpretação. Minha observação é no intuito de que cada leitura, mesmo quando para a mesma pessoa, dentro do mesmo nível de questão, terá interpretações diferentes a cada atendimento feito, quando sair determinada lâmina. 

Noto certa persistência nas “receitas”, fato que deixam limitados e equivocados os sortilégios em geral. Já encontrei coisas do gênero em algumas literaturas, na forma de tabelas extensas sugerindo combinações, porém vejo algumas falhas na prática. A vida não se vive por tabelas pré-formatadas, o mesmo homem não se banha duas vezes no mesmo rio...

Digo culinariamente, que os Maiores são como o feijão para uma feijoada; os Menores, os acompanhamentos; a pergunta, o fogo; o preparo dos temperos e acompanhamentos, o métodoe por isso deve ser muito bem escolhido; e o dom do chef para cozinhar, a interpretação. Assim, saborear adequadamente será a obter as respostas servidas.

Assim como na feijoada, as respostas também podem ser indigestas ou pesadas à suscetibilidade de quem for digeri-las, às vezes. Digo mais, se está preparado para perguntar, deve estar ainda mais preparado para ouvir a resposta. E ai o que fazer? Ainda como na feijoada, uma boa ajuda para a digestão, seleta ou da baia: laranja é o conselho

Enfim, estudar e usar o Tarô como oráculo, não é um bicho de sete cabeças, é um aprimoramento íntimo. Sabemos que ele dá certo, desde que respeitadas sua abrangência e potencialidade. Mas por que dá certo? É um mistério maior que transcende a sua origem e criação... a meu ver.

ChefE a caipirinha? Sua feijoada não tem? Tem sim! É o preço da consulta, que pode vir antes ou depois do almoço atendimento... Bom apetite!

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