segunda-feira, 11 de maio de 2009

Santos ossos, Batman!

Para aqueles que não tiveram vovozinhas adivinhas ou cartomantes.
 


Pena alguns não perceberem que, como muitas das coisas na vida, o Tarô é uma experiência pessoal, individualizada. Cada qual chegou ou se achega a ele por vias, motivos e momentos diferentes. Cria-se assim uma verdade particular, uma história e relação próprias com o Tarô. A isto também chamo de comprometimento.  Impor a outrem o que julgamos certo para nós, ou o que pode ser certo para uma coletividade, creio ser um equivocado desperdício de tempo.

Sou daqueles que compartilham da romântica idéia de tradição: não de ensinamentos contidos em livros santos, presos em monografias herméticas e grimórios de tempos imemoráveis e obscuros, mas sim daquilo que é transmitido boca-ouvido ao longo do caminho ao buscador, seria o buscador buscado pelo Caminho? Vai saber…

Mas a questão me parece bem outra. E está tão evidente que transcende a picuinha necessidade de mera discussão de opinião sobre o assunto. Noto estar no âmbito da limitante vaidade ou da corrosiva inveja, para não dizer - já dizendo: incapacidade.

Para alguns o reconhecimento é o efeito do constante labor, o resultado de um trabalho dedicado e profundo, mas há outros alguns que devaneiam por meta a notoriedade e o brilho como causa primeira, custando o que custar. Chegam a renegar até o que sabem estar correto, e pouco ou quase nada de estruturado chegam a desenvolver e muito menos publicar. Ficando à sombra da invalidação do trabalho alheio, salivando comentários distorcidos a boca miúda, num discurso híbrido com infantil diferença e distância de conteúdo e prática. Isso tornou-se marca registrada destes, que ainda revelam uma postura de indignação e vilania erudita se contrariados em suas próprias contradições... Despertarão algum dia dos delírios do ego e da presunção? Que nem todos do rebanho seriam vaquinhas de presépio? Cisma este herege emergente que vos escreve.


imagem: Fabrique De Cartes A Schaffhouse

E isto parece incomodar um bocado, mais que ser contra ou a favor simplesmente de um trabalho, autor e idéias.

Terrível veneno para o ego pensar e agir como deus único sobre a terra. Coisa esta que não está errada no todo em se pensar, porém se esquecem ou não aceitam que os demais também são deuses e cada um ocupa o lugar que lhe cabe neste Olimpo.

Para mim, não tem como discutir idéias se não avaliarmos quem as propaga, se este é o “pensador” das mesmas. Ao discutirmos idéias, certamente avaliamos – bem ou mal – aquele que as geram e as propagam, pois pelo fruto se conhece a árvore, como pela árvore os frutos que dela pode se esperar. Preferem a imponência visual do robusto carvalho, que a simplória sabedoria do caniço durante as tempestades.

Flexibilidade, desapego, revisão e comprometimento para qualquer ação ou não ação, é um bom princípio. Sugere-me que é esquecido que algumas religiões na antiguidade foram as que tomaram para si certos conhecimentos e práticas do que entendemos hoje como oculta, holística, esotérica ou mística. E quando detentoras de tais conhecimentos e práticas esconderam ou pulverizaram simplesmente entre os véus do esquecimento tais saberes, em benefício de seus interesses. E de dogmas e tabus se valeram para deter o poder como fonte de dominação político-social sobre grupos não esclarecidos e subservientes.

Que para se “adivinhar” é preciso um exercício religioso, sagrado e divinizado (e fora de moda) como um dom dado por alguma divindade de plantão a “seletos eleitos”, num morro no deserto, cinzelando em pedra os ditames do “pode-não-pode”, com salsas ardentes discursando ao fundo de algum tipo de cerimônia iniciática. Ou inalando gases psicotrópicos no reservado dalgum templo helênico esquecido. E fora disto tudo é: Heresia! Heresia! Heresia!

“Para fogueira com esses anacrônicos adivinhadores do Tarô em pleno século XXI (!)”

Pobre daqueles que pensam falar por todos, como se seus paradigmas vaidosos e improdutivos fossem algum tipo de lei absoluta ou regra geral num dado momento. Ou pensarem que respondem pelo comportamento de uma enorme coletividade! Eu posso estar errado, como não afirmo estar certo, mas respondo pelo que penso, digo e faço em consonância. Como não passei procuração a senhor ninguém para responder por mim enquanto praticante e estudante de Tarô! E ainda os déspotas se dizem Não Donos da Verdade... Desde que não contrariados em suas sapiências sofísticas.

Que balela!

Bem, afinal pelo pouco que sei de história, sofistas existiram, existem e continuarão existindo e pelo andar do Arcano VII, na contramão do óbvio, do simples e do bom senso.




Pergunto: Nenhuma tia avó distante? Uma prima da mamãe ou do papai? Uma vizinha que seja? Que peninha... então que os ossos das vovozinhas descansem em paz! Pois as minhas tem um neto que adivinha com o Tarô e em pleno século XXI (!) E elas nem jogavam cartas ou frequentavam cartomantes, até onde foi me contado... Mas seria uma honra e privilégio se assim fosse.


“D_us me proteja de mim e da maldade de gente boa e da bondade da pessoa ruim.” (Ave César, Chico!)

2 comentários:

  1. Oi Arierom,

    A minha avó era adivinha. E das boas!
    O preconceito existe devido a ignorância. O cérebro é algo mais complexo do que se imagina e já existem pesquisas científicas que provam que o cérebro antecipa, faz previsões. Claro que a Ciência ainda engatinha, mas, é dessa maneira que se dão os primeiros passos.
    Parabéns pelas reflexões tão verdadeiras! Boa sorte ao blog!
    Um beijo!

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  2. Vera:
    Com muita satisfação e alegria sou grato pelo carinho e atenção a este diletante e herético espaço.
    Suas impressões e críticas são bem-vindas sempre!

    =)

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