quarta-feira, 25 de março de 2009

O caminho dos símbolos


O caminho dos símbolos é perigoso, porque é fácil e sedutor, e é particularmente fácil e sedutor para os de imaginação viva que são precisamente os mais fáceis de induzir-se em erro e, também, de romancear para os outros, formando fraudes por vezes inocentes, por vezes um pouco menos que isso. Nada há mais fácil que interpretar qualquer coisa simbolicamente; é ainda mais fácil que interpretar profecias.

Sucede, ainda, que os grandes símbolos são relativamente simples, prestando-se assim a uma série infinita de interpretações Figure-se o leitor, imaginando, quantos valores simbólicos se não poderão atribuir às duas colunas no átrio do Templo de Salomão, ou, aliás, a quaisquer duas colunas em qualquer parte. Tudo quanto, na vida ou no sonho, é composto de uma dualidade — e quase tudo na vida ou no sonho envolve uma dualidade qualquer —, tudo isso se pode supor simbolizado por aquelas duas colunas.

Elas, porém, não podem destinar-se a simbolizar tudo quanto se queira. Algum, ou alguns, hão-de ser os veros sentidos íntimos delas. O que se pergunta, pois, é isto: que critério temos nós para determinar, entre tantos símbolos possíveis, quais são os que são deveras aplicáveis, os verdadeiros?

Para isto existe o critério do quíntuplo sentido: cada coisa tem na simbólica, cinco sentidos; e esses cinco sentidos estão uns dentro dos outros, sendo cada um o desenvolvimento do anterior. Quando Pike diz que há, para a maioria dos símbolos maçônicos quatro atribuições distintas, diz bem, pois, como é de ver, exclui o sentido literal, ou profano, que é o primeiro dos cinco e não entra na consideração dele.

Quando, porém, passa a dizer que um é o sentido moral, outro o político, vai mal, pois que o sentido político não é o desenvolvimento do sentido moral, mas uma coisa de outra ordem.

Fernando Pessoa | Imagem: @leochioda

6 comentários:

  1. Saudações,bom Arierom...Gostei muito de saber disso;então, o cara que "nunca conheceu quem tivesse tomado porrada",rs!, tbm estudava o Tarot? Q beleza!Maravilha de texto...mas ele como O Mago e de pernas cruzadas, tá de lascar!
    Muito interessante.Qual o nome e onde posso encontrar essas cartas?

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  2. @Radi,

    a criação é única (a partir da pintura de Almada Negreiros de 1954), que Leonardo Chioda fez para ilustrar um artigo que publicou no Clube do Tarô. Caso queira conhecer o blog do Leo e outras de suas criações: Café Tarot. O @leochioda é fera, comprove!

    Forte abraço!

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  3. Excelente post e lamina linda, de fato a politica ja caminha para outros planos bem diferentes da boa moral!Bjs!

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  4. @SenhordaVida,

    os caminhos e descaminhos da política são e estão "delicados", mas cabe a nós vigiar e cobrar dos eleitos.
    As criações do @leochioda são de excelência ímpar!
    E você sabia que Fernando Pessoa foi amigo de Crowley?

    Abraços e boa eleição!

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  5. Realmente, tudo pode ter várias interpretações. Cada um vê qualquer coisa através de sua bagagem interior.

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  6. @LeilaFranca,

    são nossos olhos internos que captam através da percepção, que estimula a reação e nos permite sentir e entender um símbolo.
    O Tarô é um alfabeto simbólico e fala à alma da própria alma.

    Obrigado pelo prestígio e comentário!

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