quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Adivinhação e alguns ovos

Ovo Cósmico de Salvador Dali

Viajante, às vezes não sei se vou para as margens do Pietra, sento e choro ou dou risada. No meio tarológico, deparo-me às vezes com situações travestindo o velho baralho com rótulos que não correspondem com a essência dele, mas realizando algo que ele é por base: adivinhação.

Pode ser pelo mesmo motivo que eu cismo em pensar que o Tarô é uma arte adivinhatória, uma ferramenta oracular. Em pouco mais de oito anos de estudos e práticas, o fato mais revelador que encontrei é que se trata de uma fonte de autoconhecimento no sentido mais profundo. Estude e comprove! E quer gostem ou não, o uso dele em diversas modalidades parte da prática adivinhatória.

Adivinhação com Tarô é charlatanismo? Não! Como não é  uma prática de  futurologia, dentro da definição e uso do termo específico. Embusteiros e aproveitadores de toda sorte há em todas as atividades mundanas e espirituais, neste mundo velho sem porteira e sem patrão…

O Tarô por ser aberto a qualquer um, não significa que todos que por ele se interessarem, continuarão. Pois entre os iniciados na arte há um número tal de desistentes a aprendiz de feiticeiro após algum tempo de estudo.  Conheci uma minoria que estudava o Tarô sobre vários aspectos e não realizavam práticas oraculares. Outros poucos sacralizavam no altar romântico do misticismo oferendas exotéricas e exóticas. E ainda uma boa maioria, seguindo o lado profano da adivinhação, mesmo que blindada por alguns rótulos mais confortáveis e modernosos. Um ovo não deixará de ser um ovo após cozido, apenas não poderá ser um 'pintainho' depois disso.

0712

Creio igualmente que uma linguagem mais contemporânea para estudar, entender e explicar o Tarô é necessária. Alguns termos que usamos sem nos dar conta, como: arcano, lâmina, consciente, subconsciente, inconsciente e arquetípico, por exemplo, se enraizaram tanto na rotina dos buscadores, que muitos até acreditam que sempre foi assim. E quanto aos neologismos que criamos pela necessidade de adjetivar ou substantivar alguns setores do Tarô?  E outras tarolices emergentes… Há momentos em que alguns dos desusados chavões esotéricos soariam melhor a meu ver, para algumas referências…

Entendo que dentro do esoterismo ou da equivocada visão do; persista ainda no verniz do interpretar Tarô, um fascínio acompanhado de uma expectativa mágica de poderes supra-humanos sobre os demais mortais normais. Ainda faz eco o discurso fabuloso de que o Tarô é uma chave perdida há alhures que explicará e justificará em algures o universo, a humanidade, seus desígnios e um pouco mais. Confesso que gostaria muito que fosse… mas não é!

Ainda estamos criando o entendimento do seu uso e por isso não devemos nos afastar tanto de sua estrutura e origem tangível, mesmo que pouco conhecida. Pesquisam-se iconografias medievais e estudam-se referências históricas. Há quem se aplique na simbologia hermética, alquímica e astrológica, rebuscando em  grimórios e outras fontes místico-espirituais. Mas tecem avaliações cartesianamente com pensamentos dos tempos atuais e não com o pensar dos séculos que se supõem  o surgimento do Tarô.

A estrutura tradicional bem como o discernimento oracular sobre o Tarô ainda carece de maiores estudos e publicações comprometidos com práticas lúcidas e éticas. Mantendo o escopo de suas origens e vislumbrando até onde vai sua abrangência e possibilidades. Ou simplesmente lembrando que o Tarô é apenas Tarô…

Ovo de Cristal

Viajante, muito me convém imaginar que as antigas cartomantes, diria Gilberto Gil, até que nem tanto “esotéricas” assim, apenas deitavam sortes com um baralho, barganhando quem sabe por seus atendimentos alguns ovos para a próxima refeição. Se eu sou algo incompreensível, meu Deus é mais.

6 comentários:

  1. Rico post o seu! Muito bom!

    De fato. Tarot é mágico. Só quem usa sabe. Seja para o fim que der, o importante é o seu "Estude e Comprove"!

    Abraços,

    Adash

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  2. @magododestino,

    creio que todos que se aproximam do Tarô se transformam. Consulentes e quem o estuda. É uma magia possível de dentro para fora.
    Não importa a via que nos aproximou dele; bom para quem com ele se orienta e excelente para aquele que estuda e pratica.

    Forte abraço!

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  3. Oi Arieron, tudo bem?
    Por isso sou grato por ser hereditário. Eu aprendi, na prática, que a Cartomancia, antes de toda a "filosofia" (por vezes, de botequim) que o acompanha, antes de qualquer coisa, é um meio de sobrevivência. É um fado. Mas um fado divertido.
    Depois que reconhecemos as cartas como nossas, o passado (a tradição) e o futuro (o comprometimento) se desenrolam para nós; não precisamos de um oráculo que tem suas origens no Egito, nem de um pergaminho que revele os segredos do Apocalipse. É glamouroso frente aos outros, afirmar uma coisa dessas, e muitos autores fazem sem consciência desse fato.
    Mas, para mim, o importante em minhas cartas, como aprendi, é o seguinte: Elas FUNCIONAM.
    Simples assim.
    Como você diria... Estude e comprove! ^^
    Grande abraço!

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  4. @emanueljsantos,

    muito importante nossa história pessoal com o oráculo, e os registros que a tecnologia nos permite registrar e compartilhar.
    Se recebemos como herança; esta será o que podemos (e devemos) deixar para as gerações futuras.
    Assim a tradição se perpetuará.

    Forte abraço amigo!

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  5. Oi, Arierom!

    Parabéns pelo seu blog.

    Adorei o artigo e a historinha em quadrinho. rsrs

    Bjos

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  6. marcelo,

    esoterismo é coisa séria, mas não deve ser ranzinza.
    Obrigado e um abraço!

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