domingo, 12 de setembro de 2010

Essa coisa de Tarô

Tarô, Bicho de Sete Cabeças?

Viajante, o Tarô é livre, libertário, mas não é libertino. Em minhas andanças pelo orbe taromântico da internet, encontro situações que oscilam desde pontos divergentes de misticismo e cientificismo, até sacralizações exorbitadas para o velho baralho. Muito do que encontro em minhas pesquisas são fundamentações emergentes mescladas com teorias obscuras e superficiais. Mas tenho me deparado com magníficos textos escritos com coesão e profundidade dignos de estudos e muita reflexão.

Tenho atinado em meu ócio que desde seu surgimento na Europa Renascentista, o Tarô foi se tornando um nicho muito confuso pela mixórdia de pretensões que desemboca na atualidade. Não devemos dogmatizar seus aspectos ou engessar conceitos, mas é importante edificar uma base lúcida e coesa com seus princípios e possibilidades. Por vezes penso ser por falta de respeito ou conhecimento básico que as distorções ocorrem.

O foco que se busca para o Tarô atualmente vai desde pontes com os diversos saberes da humanidade até analogias com o esoterismo tradicional. Estuda-se simbolismo, história, ocultismo, psicologia, teoria da relatividade, física quântica, o Arcano XV a quatro...  Creio que as antigas cartomantes de nada disto se valiam para praticar suas Artes. Possivelmente apenas percebiam as tangências com o plano espiritual e com a elevação do saber mundano, mesmo sendo vistas e tratadas como pessoas rudes, supersticiosas.

Mulher e Tarô

Penso que na sua expansão como oráculo, o Tarô não foi salvaguardo em elevados princípios esotéricos. A cartomante era a adivinha, a mulher que deitava cartas, tirava a sorte... Mas o que veio então despertar nos grandes sábios e magos do final do séc. XVIII em diante, a atenção para essa desprezada prática popular feminina? Se eram coisas de coquetes (Levi) e burrinhas (Papus). Fico sempre a me perguntar.

Minha teoria parte de que a Arte transmitida de geração em geração por mulheres, era uma ferramenta de previsão ímpar, mas sem o aval das demais ciências ocultas ou escancaradas dos misóginos sábios de então: “Esta coisa dá certo… que poder ela oculta? Precisamos dominar para entender, e entender para dominar!” Sei que tem um “q” de maldade herética esta minha cisma. Mas esta cousa me diverte tanto...

A meu ver, teriam que se revestir de algo que justificasse as incursões que desejavam fazer, sem parecer mais ridículos entre seus confrades do que aos olhos de leigos e cientistas.  Criar e recriar explicações teúrgicas para sua origem e blindar com algo que só alguns iniciados poderiam, quiçá, vir a compreender, pois para entender, até o dia de hoje é ar-cano de dar em trunfo s/nº.

Por um lado, isso engrandeceu e expandiu o Tarô, mas a cousa arvorada por tantos desejosos em superar seu fraters, foi deixando vácuos e vícios. Uma caixa de pandora para nós estudantes mais avançados (se assim posso me referir), e muito mais para aqueles que estão se iniciando. Assim, misturam-se escolas e estilos de estudos numa só aplicação/interpretação, para justificar erros e enaltecer acertos.

A verdade é que pouco se conhece da sua origem e como ele foi se tornando no que é: oráculo. Não podemos tornar o Tarô n’algo que ele não é. Verdades absolutas não existem, porém há a coerência  e o discernimento para aquilo que é plausível e simples com ele.

Sou favorável que se crie e se teste de tudo, desde que não se perca de vista suas bases antológicas, dando mais valor aos floreios que para seu escopo. Existe algo mais sagrado que a vida humana? Então o Tarô é sagrado, pois fala do homem. É profano? Sim, pois não foi lavrado em pedra e fogo sobre um monte sagrado.

Criatividade

Certezas são bem poucas e mesmo estas se reportam mesmo aos resultados: O Tarô dá certo. O Tarô ainda tem muito de ser pensado, estudado e principalmente preservado em sua estrutura tradicional, pois é dela que partem toda ordem de modernismos.

As aplicações que fazemos atualmente para ele ainda são muito novas. Defendo a ideia de que façamos  deixar um legado seja na pesquisa, no estudo, como na prática que relatamos através dos mais variados meios. Deixar uma base honesta e sincera do que vivenciamos com ele, para que as gerações futuras não se desencantem do amor e do respeito que nutrimos pelo Tarô.

Muito mais que fascínio e encanto, possamos deixar também as nossas dúvidas e angústias de praticantes e consulentes. Sem dogmas ou sofismas e no lugar da nossa mera presunção, legar o estudo, a prática e a busca que conseguimos realizar. Sem o constrangimento de querer ser uma coisa diferente daquilo que fazemos: adivinhação com cartas de Tarô

4 comentários:

  1. Concordo em gênero, número, grau e intensidade.
    Mas, conforme vejo (http://conversascartomanticas.blogspot.com/2010/07/sobre-o-genero-daquele-que-manipula-as.html), há um "q" de misoginia nesse processo de aceitação do Tarot como algo "sagrado", advindo de um fato aqui relacionado: ele FUNCIONA. Simples assim.
    Excelente texto, deveras agradável.
    Um grande abraço.

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  2. Excelente texto e com certeza: O taro da certo, basta pegar o ponto do bolo.ou seria do feitiço?, abraços!

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  3. @emanueljsantos,

    obrigado! Independente do uso que fazemos do Tarô, é do como usamos: o nosso comprometimento ético.

    Preconceito há até entre tarólogos. Mas a verdade é que ele funciona. E como!

    Sempre volto a atenção que independente da Escola: Simbólica, Cabalista e Mitológica; do uso profano, terapêutico, mágico ou ritualístico; é que temos o Tarô como propósito, e isto é que nos iguala e certamente deve nos unir como segmento.

    Penso na altura do meus 50 anos, que só há um gênero: O Humano, que se divide em bom ou ruim.

    Abraços do Arierom.

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  4. @Senhordavida,

    creio que é tanto de um como de outro. A receita depende da mão, como o feitiço depende do Mago: estudar, praticar e compartilhar.

    Boa semana Lord!

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