quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Terminologia dos símbolos de Tarô

Viajante, estou arrematando o artigo anterior, caso você esteja chegando agora ao Blog de Tarô, recomendo ler antes: Percepção, estímulo e reação. Obrigado!

Tirinha: Um Sábado Qualquer

O Tarô faz parte da cultura da humanidade a mais de seiscentos anos, e ainda são incertas suas origens, se nasceu para fins lúdicos ou oraculares, quem e como o concebeu tanto para uma como para outra finalidade. É no seu futuro que temos que pensar. Mesmo com todo este tempo de existência, a estrutura de estudo da sua aplicação como aprendemos é recente, muito recente.

A evolução que alcançamos vem a partir da década de 60 do século passado. A forma que hoje aplicamos o uso oracular do Tarô é muito nova também. As pesquisas e discussões de formadores de opinião e operadores, Tarólogos/Taromantes, trouxeram renovação e ampliação na linguagem – a qual penso ainda precisar evoluir mais. Conservar sua imagética peculiar, não corrompendo e diluindo atributos que são pertinentes aos símbolos que se conservaram por séculos. Esta que nos favorece hoje na dinâmica e dialética ímpar para a adivinhação e outras possibilidades tarológicas emergentes. 

Mesmo existindo poucas referências históricas registradas - e penso que isto foi uma benção em certo ponto - a indiferença ou preconceito dos sábios e ocultistas renascentistas e posteriores, nos deixaram uma gama considerável de conjuntos sem alterações artísticas e estrutural de monta. O Tarô se fez relevante e se conservou como oráculo entre as ignorantes do povo, aqui entendam: mundanas e marginais cartomantes, para os eruditos misóginos desta época.

Um dos motivos que pode ter ajudado na conservação destas imagens foi o fato de que os fabricantes e seus artesões de cartas (Tarôs) europeus, que de 1600 em diante, em algum ponto concordaram de usar um padrão mais definido e único, ainda que para fins meramente comerciais. Como é deste período o surgimento do termo Tarot, que se generalizou e espalhou pelo velho continente, com a estrutura que hoje conhecemos de 78 cartas com seus respectivos nomes e numeração (signos).

Coisa que o ruidoso tempo atual, pela força mercantilista do consumo ávido por novidades não respeita ou nem conhece que exista valores esotéricos enraizados nas curiosas figurinhas medievais. Designers gráficos remodelando imagens em seus Macintosh com nome de Arcanos, nada tenho contra a criação artística, e redatores de encomenda para revestir textos que acompanhem esta ou aquela manifestação artística, fazem um ajuntamento de estilos e escolas esotéricas, compilando conceitos contraditórios, criando uma verdadeira Torre Fulminada de Babel.
 
Torre de Babel


O que justifica simbolicamente o conceito ou atributo do Arcano II, A Papisa - estar seminua a caminhar sobre céu aberto? Seu atributo seria de silêncio, estudo, reservada, pudica e retraída, enclausurada e passiva? Que valores conceituais se traduzem de tal recriada imagem? A impressão que tive em meus primeiros contatos com alguns conjuntos anos atrás, e creio que todo aquele que estiver chegando agora poderá ter, é que existiam Tarôs diferentes, “mais poderosos e corrigidos” e tal... comprem e aproveitem djá!

Não! Tarô é um alfabeto simbólico, se escrevo “A” para representar a primeira vogal, porque mudar por “E” ou “F”, e dizer que representa a mesmíssima vogal? Seria uma evolução? Não! Com o Tarô não está sendo diferente esta comparação esdrúxula, mesmo em face do apelo comercial, que, diga-se de passagem, não é gerido e constituído por ocultistas ou esotéricos geralmente, mas por capitalistas, que tem como mística o retorno de seus investimentos empresariais. 

Segue referências compiladas do que compõe o universo dos símbolos das Lâminas de Tarô, que creio serem esclarecedoras, pois podem ser entendidas como sinônimos no coloquial, mesmo não sendo correta essa analogia.

[...] SIGNO: É a identificação da imagem; ele remete a um conteúdo simbólico específico, podendo ser um nome ou número.

[...] FIGURA: É uma imagem concreta, a representação da forma exterior como uma ilustração, aquilo que vemos racionalmente sem conjecturar ou analisar, a forma geral e automaticamente identificada racionalmente.

[...] ORNAMENTO: É a ilustração das imagens que compõe um símbolo múltiplo, ampliando o valor e a dimensão que se quer dar à figura principal com gestos, formas e posições. No ornamento se tem o aprimoramento do estilo na trajetória do símbolo e o atributo que se quer descrever. Esta é a principal etapa em qualquer estrutura simbólica; no caso do Tarô, constitui a principal ferramenta para atingir a significação que se quer descrever aplicando diversos emblemas ou adereços.

[...] EMBLEMAS OU ADEREÇOS: É a representação de uma idéia, um conceito, um sentimento, podendo ser um signo, sinal ou símbolo. No Tarô representa a parte que mesmo isolada irá manter seu valor original. O emblema nunca é afetado, mas pode modificar qualquer conjunto simbólico.

[...] ATRIBUTO: O conjunto de figura, ornamento e emblema constituem um atributo. Esta classificação se projeta ao modelo simbólico, ou imagem arquetípica, que se deseja tornar visível, e de certa forma limitar ou dar espaços lógicos aos símbolos usados. Em princípio, ele pode parecer semelhante ao sentido do ornamento; o diferencial é sutil. Enquanto no ornamento temos uma análise detalhada do símbolo, no atributo percebemos o sentido geral tendendo a uma síntese global; ele constitui o principal entendimento do Arcano para a interpretação.

Trocando em miúdos, Atributos é a parte da Tarologia que usamos para a Taromancia, devido ao que é transmitido pelo seu ornamento. Alguns autores e instrutores chamam simplesmente de palavras chaves do Arcano.

[...] SINTOMA: Bem, resumidamente para um entendimento básico e prático todos os Arcanos Maiores do 01 ao 21 terão dois sintomas: o primeiro e principal sintoma será o Arcano Sucessor, ou seja, aquele que vem após sucessivamente dentro da estrutura numeral, e o sintoma secundário será o produto ou decomposição de seu número, se tornando o “Arcano Ressonante”. Quanto ao Arcano S/Nº, O Louco, ele apenas terá o sintoma principal no atributo do O Mago.

[...] ANALOGIA: A união de todos os fatores já apresentados somente será compreendida pela lei da analogia. Busca-se uma coesão de pensamentos, seja num arcano específico ou em sua estrutura geral. A analogia sempre estará desenvolvendo uma relação direta e comensurável entre todos os elementos simbólicos. O raciocínio por analogia poderá ser sempre uma fonte de inúmeros equívocos, deve-se ter os conhecimentos esotéricos dos inúmeros símbolos analisados em sua totalidade.

[...] METÁFORA: É uma palavra ou expressão simbólica usada para denotar uma idéia, sentimento, conselho, situação, relaciona-se por correspondência ou associação. É um veículo importante para fazer-se compreender alguns símbolos, indo além da capacidade de raciocínio e da idéia prima.

[...] APÓLOGO: É a forma didática de ilustrar o conjunto do atributo, por escrito ou verbal, a partir de uma situação apresentada e transmitir seu ensinamento e compreensão. O apólogo é a grande filosofia do Tarô: fazemos uma coesão de vários conceitos e conhecimentos para adequar da melhor forma possível a transmissão dos valores contidos em cada Arcano, ou em seu conjunto. Pode-se usar fábulas, mitos, histórias, ficção, contos, músicas, literatura, qualquer elemento similar ao proposto para explicar o todo, sem que haja necessidade de minúcias de cada elemento simbólico contido dentro de cada Arcano. Essencialmente o trabalho de comparação e analogia é fundamental.

[...] Os mitos apresentam-se como transposições dramatúrgicas de um arquétipo ou símbolo através de uma narrativa, fábula, parábola, conto, epopéia, gênese, cosmogonia, teogonia. Eles podem ser um modelo ou padrão de alguma criação biológica, psicológica ou espiritual. A função mestra do mito é a de fixar as estruturas exemplares de todas as ações humanas significativas. Ele surge como um teatro simbólico de lutas interiores e exteriores a que o homem se entrega no caminho de sua evolução. Um mito não é um arquétipo, apenas o representa é uma imagem arquetípica. Neste ponto um Arcano do Tarô não é um mito; mas vários mitos podem representar ou serem percebidos num único Arcano. Contudo, não existe um único mito que represente todo o conjunto de Arcanos ou o próprio Tarô, mas os Arcanos podem ser adaptados para uma história de qualquer mito.

Estas características da analogia mitológica, cabalística, astrológica, numerológica, não são desejáveis quando não se tem o domínio da estrutura do Tarô, ou recomendável aos iniciantes desta arte; geralmente, é por onde muitos começam a pesquisar e terminam distanciando-se totalmente do Tarô ao longo do tempo. Somente se deve aplicar esses conceitos aos leigos ou clientes que não têm o menor interesse em estudar o Tarô; assim, para eles, serão apenas meras referências elucidativas, apólogos, metáforas, reflexões ou axiomas, mas para o estudante pode ser uma fonte de confusão e incapacidade de absorção dos símbolos.

O que concordo, aceito e desenvolvo - e chamo de Didática - em alguns dos artigos já publicados, é do autor brasileiro Nei Naiff, que dispensa maiores apresentações entre os tarólogos e taromantes. E não se tem com sua obra ou pessoa meio termo: amado ou odiado, exacerbado ou incompreendido, exaltado ou ignorado. Ele causa isto nas pessoas que o conhecem pessoalmente ou mesmo através de suas obras.

Raros estudantes ou profissionais, não só no Brasil, que nunca tenham ouvido falar dele ou não tenham ao menos de duas a três obras em suas estantes, mesmo não gostando ou não aceitando sua Didática. De qualquer forma, é respeitado. Trouxe um divisor de águas a partir de 2000 ao estudo e prática de Tarô no Brasil com sua indispensável trilogia de Estudos Completos de Tarô, com o lançamento da 1ª edição: Tarô, Ocultismo & Modernidade. Deu-me uma coerência e direção de estudo e uma forma mais contemporânea de olhar o Tarô como um todo. 

Julgo-me privilegiado, por ter sido lançado ao mundo dos Arcanos, numa época que já existia internet e livros de Nei Naiff, pois foi com ele que também tive as referências e indicação de diversos autores nacionais e estrangeiros. Foi com ele que aprendi comprometimento e algo de estruturado... se hoje possuo alguma coerência e discernimento no assunto, foi estudando através de seus livros, e depois participado de alguns workshops.

Dicionários

Sim, sou um Naiffista com toda certeza, satisfação e orgulho. Que não pairem dúvidas quanto a isto. Um abraço e até a próxima!

O conteúdo em citação [...] do artigo foi pesquisado e resumido do livro: ESTUDOS COMPLETOS DO TARÔ - VOL. I - Tarô, Ocultismo & Modernidade - Editora Elevação - 3ª Edição - 2002 - NEI NAIFF. (Esgotado) 

6 comentários:

  1. On The Rocks,

    obrigado pela apreciação!

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  2. Perfeito!!!
    As ilustrações estão ótimas...
    E tb concordo que o Nei Naiff é um referencial importante para todo o estudioso de Tarot, independente de gostar dele ou não...
    Tem que se respeitar sua obra magnífica e seu trabalho como um todo...

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  3. Luiz Costa, o que penso saber sobre Tarô, devo muito às obras de Nei Naiff, porém ele não é responsável pelas minhas limitações. Obrigado pelo comentário e forte abraço!

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  4. Cristiane Vergara de Souza21 de junho de 2012 às 01:45

    Arierom,te peço uma ajuda. Estou buscando entender o significado de SINTOMA e nem aqui, na trilogia do Nei e nenhum outro lugar encontrei um conceito que eu entendesse. Tu poderias, por favor, explicar de outra maneira ou me indicar onde encontrar a resposta? Desculpe, sou uma autodidata mega iniciante Gracias,Sou tua amiga no face .Um abrazo

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  5. Cristiane,
    também sou autodidata (70%)e meus livros de cabeceira são os da "Trilogia do Nei". Compartilho abaixo como entendo e uso em atendimentos:

    Os Sintomas(conceitos):
    Arcano Sucessor, serve como conselho para uma situação com um arcano numa casa em qualquer método.
    O mesmo arcano possui o Arcano Ressonante, que será caso a pessoa não siga o conselho, o que ocorrerá.

    Na reedição e atualização dos Estudos Completos do Tarô Volume 1: Tarô, Simbologia e Ocultismo, Editora Nova Era deste ano; @NeiNaiff retoma esta parte na página 119 em diante, confira e compare com o da edição da Editora Elevação, página 136 em diante.

    Espero que tenha jogado um pouco de luz na sua dúvida, e obrigado por nos prestigiar e comentar.

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