quarta-feira, 1 de julho de 2009

Manifesto do Herege

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Adivinhação: Interpretação de eventos passados, presentes ou futuros, segundo um conjunto culturalmente codificado de meios e técnicas postos em operação pelo adivinho. - Adivinhar: o ato de; - Adivinho: aquele que usa de meios de.”   Dicionário Aurélio

A meu ver esta é a raiz mestra do Tarô: Uma Ferramenta Oracular.

Como e por que refutar? Como adulterar esta simples constatação? Para que negar sua essência original como oráculo? Porque estamos na Nova Era, no 3º Milênio? Muito trabalho e esforço de pesquisa foram feitos para discernir a aplicação e eficácia do Tarô como Ferramenta Oracular. Alguém aí poderia supor um futebol sem dribles?

Adivinhar é uma das tradições mais antigas de que se tem referência em qualquer tipo oráculo. Haveria diferença para o Tarô? Tentar mudar o significado mudaria o significante? Ou vice-versa?

Conjecturo sobre o que é possível dentro do meu conhecimento, na linguagem simbólica: o Futuro, o Presente, o Passado; quem está ajudando ou atrapalhando uma situação; se ela está no início, meio ou final; entre outras coisas. Também aconselho. A partir disso, entra o livre-arbítrio de cada um: faz quem pode, segue quem quer.

O preconceito com a palavra adivinhar pode distorcer entendimentos em determinados discursos e mentes. Em nome do orgulho, prepotência e marketing pessoal. Seria mais divino “divinar”? Nada tenho contra este termo. Penso que além de poético é igualmente musical usar “divinação” como outra forma de dizer adivinhação para o ato de adivinhar, ou simplesmente: Sortilégio!

Alguns empregam a conotação de ignorante, atrasado ou até embusteiro para aquele que se diz Adivinho. Preferindo transmutar o seu significado e sentido etimológico por sinônimos mais rebuscados na Língua Portuguesa. Passando por estrangeirismos e termos científicos generalistas para exprimir a mesmíssima coisa. Enriquecendo o cabedal de discursos...

Creio que seja uma questão de escolha – por uma necessidade ou vaidade – assumir essa suposta modernização. Diplomas, doutorados e especializações não mudam a conduta de nenhum mau ou bom caráter, ímpio ou virtuoso em qualquer área. Nem edificam sabedoria quando são usados para ornar paredes e cartões de visitas. E o fato de ser místico-esotérico gorjeia iluminada evolução? Talvez uma cadeira cativa no Arrebatamento Final?

O ecleticismo do Tarô é naturalmente liberto e libertador. Se a Astrologia é dita Mãe de todos os oráculos, penso que o Tarô pode ser o Pai, não? E nós, praticantes e estudantes, os seus “estranhos filhos”. Lançar pontes de analogia entre diversos Saberes é um excelente exercício filosófico, desde que não se abstraia a natureza de cada um deles. E não esqueçamos: “Tarô é Tarô”. Nada mais, nada menos.

Algumas aplicações como a criação de degraus evolutivos em Ordens Místico-Ocultistas; magia ritualística ou pessoal; terapia e meditação (segmentos emergentes); e ainda outros mais recentes como a neurociência e física quântica; são alguns exemplos dessa “ponte de diálogos entre os saberes”. De uma forma nada profana, como alguns precursores salientam entre seguidores e simpatizantes.

Lembrando que no Brasil não há historicamente a cultura de Jogos Lúdicos com Conjuntos de Tarô, como na Europa - berço do mesmo - onde há esta prática inclusive com tradicionais campeonatos.

Quando o Tarô, no meio do século passado aproximadamente, desembarcou por aqui, se apresentou entre brumas de poderes mágicos e místicos, um tanto sacralizado pelas traduções de ocultistas das escolas européias, amalgamadas entre a francesa, a inglesa e com algumas pitadas da russa. Não afirmo, entretanto que antes deste período, não tenha existido o uso de Tarô em nosso país.

Tarô, uma Ferramenta Oracular, uma Mancia, um meio de Adivinhar, prática de sortilégio. E por que não? Percebo que o problema não é com a semântica e nem com as possibilidades de utilização profana, mas com a vaidade pessoal. Se retirarmos a Mancia do Tarô, o que ele se tornará? Muitas coisas... Menos Tarô! Como também me cabe pessoalmente o orgulho de aceitar bem os termos: Adivinho; Adivinhar; Praticante de Sortilégios; Adivinhação; “Adivinhador” com Lâminas de Tarô, Taromante.

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Admito que não se saiba se o Tarô surgiu como oráculo ou não primordialmente. Pessoalmente penso que não, o lúdico o precede. Ou ainda como e porque se firmou historicamente com a estrutura atual. Mas querer matar, depreciar ou ignorar a sua origem e finalidade de "adivinhar", em nome de uma pretensa modernidade do marketing pessoal, vergonha ou constrangimento, me instiga certo ranço de fundamentalismo e preconceito. Algo que, no século passado, criou sofistas que chegaram ao extremo despotismo... Preocupante.

Mas o que não me preocupa é a simplicidade de Adivinhar com o Tarô. Graças a esforços e estudos sérios e ao que de melhor realizo com o meu “mental concreto”. Assim como creio que cada tarólogo o realiza igualmente. Independentemente do seu grau de evolução e comprometimento com a prática do Tarô, formação acadêmica, nível social ou credo.

Ser visto e chamado pela frente ou pelas costas de Adivinho não abala minhas convicções nem altera meu proceder dentro do que tenho estruturado e aplicado com o Tarô. Sou consciente e bem resolvido com o que abracei. Como alguns se incomodam com a afirmação e convicção deste Herege, o mesmo se ri dos que não aceitam a diversidade de idéias e opiniões, como esta. O Herege aqui tem fundada em base firme a estrutura da sua posição, que pode ser simplista por tão óbvia, mas jamais crédula ou supersticiosa entre os “achismos” da mera vaidade ou inflexibilidade de raciocínio.

E afirmo literalmente que o Tarô é ADIVINHAÇÃO em seu uso profano. Sem medo, vergonha ou preconceito!

Arrisco um exemplo: utiliza-se na atualidade, o termo “bruxo(a)” (arquétipo de sombra ou mal) a tal ponto, que se tornou um adjetivo jubiloso e honroso para muitos em nosso meio. Mas que para outros ainda é sinônimo de coisa ruim... Pergunto: Tarólogo, em alguma estância, não é uma possível imagem arquetípica para Adivinho/Mana? O que me dizem os junguianos de plantão? Confesso e peço perdão: a Análise Junguiana não é minha praia.

Como alguns que me lêem agora, assumem seu jeito “wiccano” de ser numa boa e com orgulho, propriedade e razão, eu igualmente aceito ser um Adivinho Profano com Lâminas de Tarô e nem a pecha de anacrônico abala minha modesta convicção.

Creio que nunca será um problema real, não pesa entre consulentes e leigos em geral que nos procuram. É no nosso meio comum que existe a relutância com os termos adivinhar/adivinho/adivinhação incomodando alguns a exaustão, que acaba gerando agressividade gratuita e furtiva. Seja pela frente como pelas costas... Mais pelas costas... Coisas e cousas da diversidade do ego humano... Mas que coisa realiza esses mesmos que não adivinham, na prática de seus atendimentos? Alguém pagaria e perderia tempo com um Tarólogo que não promove uma mancia com as cartas numa consulta? Um oráculo? Uma adivinhação? Uma previsão? Uma orientação? De como está ou ficará a vida afetiva, profissional, financeira, saúde e assim por diante?

Que usem o termo ou rótulo que for mais confortável então. Pois placidamente aceito o que afirmo aqui e insisto em perguntar mesmo assim, o que estão a fazer ao usar como suporte as Jogadas e Leituras com o Tarô em seus atendimentos? Como alguns se sentem em não assumir o Adivinhar na essência do que realizam? E o por que de não aceitar? Certo que opinião é como umbigo. Mesmo que seja lá com seus botões de dia e suas fronhas à noite, como se vêem? Que não assumam até entendo, concordo ser desnecessário até certo ponto, mas depreciar quem vê e entende com simplicidade a coisas em si, é pândego se não for trágico! Algo assim como um palmeirense afirmar que nunca foi palestrino...

Tudo bem que não é necessário - pois é evidente em si - constar em seus cartões, anúncios de jornal e revista, sites, blogs ou panfletos que são Tarólogos/Adivinhos. É implícita a prática, queiram ou não, gostem ou não. Mas ficar volta e meia a se justificar que fazem práticas-alternativas-de-ajuda-ao-próximo, ou qualquer coisa parecida, como se houvesse algo mal resolvido entre o discurso e a prática de ser o que são no que realizam... Mas “cada mania com seu louco de estimação”... A minha é comigo! Mas dou o benefício da dúvida tanto para um Tarólogo que “não faz adivinhação com cartas” como para um consulente que assim o quisesse. Pagar para uma leitura que não adivinha. Só gostaria muito de saber como é uma consulta assim eu não pagaria, mas que é um paradoxo interessante, ah! Isto é! Quem sabe aonde isso levaria...

Será que descobriria uma fantástica nova maneira de “manciar” que não seja oracular, de um oráculo que não conjectura vaticínios e sortilégios? Quebraria assim minha cara e queimaria minha língua? E ver assim ruir meu herético paradigma? Faria um contra manifesto para me purgar, com inúmeras escusas e venerando a Nova Ordem do 3º milênio, sobre a ferramenta oracular que não faz mancia, a Taromancia que não taromanceia! Mas até o presente momento, a leitura de Tarô que não vaticina, não adivinha, não prevê é o que? O quê será? Pode ser muita coisa... e até com boa intenção. Porém, é ou seria: Taromancia?

Ironias a parte, o Tarô tem seus termos que historicamente o diferencia e o justifica por si mesmo. Tem sua raiz nata dentro dele próprio.

Apenas venho notando no meu relativo envolvimento com este universo e seus praticantes (de tantas escolas, origens, propósitos, linhagens filosóficas e princípios teóricos) um equívoco que ainda teima em se propagar na atualidade: a desmistificação da origem e propósito do Tarô como oráculo, maquiando sobre outros véus doutrinários, com um verniz tênue de ciências humanas.

Pergunto-me: estaríamos neste interregno de Eras, presenciando o nascimento de algum tipo de “Neo Iluminismo Esotérico?” E estaria este anacrônico Herege se sentindo assim tão desconfortável por se posicionar na contra mão da história do autoconhecimento e da evolução “Arcânica”? O mais estranho e cômico de ter minha decrépita opinião, é que ela incomode ou insulte a inteligência de outrem.

Passarão os homens e suas idéias de momento e o Tarô continuará impávido e indiferente aos mesmos. Fariseus, escribas, doutores da lei e zelotes, ainda estão em nossos dias atendendo por outros rótulos, com a soberba e arrogância similar ou pior... esbravejando, não aceitando e não respeitando a diversidades de idéias, na contramão de seus próprios discursos...

“O Tarô é em si seu próprio manual”.

Romanticamente percebo o Tarô como uma criação humana, com um possível “quê” de inspiração divina, mas mesmo assim, voltada ao mundano primordialmente, evoluindo e se revelando eficaz como ferramenta oracular. Detentor de jargão próprio, particular e pertinente em si mesmo.

ESCRIBA

Creio no estudo e na pesquisa, como aprecio e respeito aqueles que se aprofundam com tanta dedicação e coerência no seu envolvimento apaixonado com o Tarô, publicando livros, edificando cursos sérios, congregando suas vivências com os demais com palestras, simpósios, congressos e fóruns dentro e fora do país. Como só posso discordar ou concordar com aquilo em que eu tenha um mínimo básico e coerente de informação e conhecimento ou de prática para avaliar se me compete usar e propagar ou não, caso venha a encontrar alguma vertente tão digna ou mais das que sigo. Não temerei mudar o meu livre pensar, discurso e ação! E certamente outros escritos poderão vir... Pois mudança é também Lei da Vida!

Estarmos em degraus de evolução diferentes não significa estarmos melhores ou piores dos demais, mas a forma como aplicamos e servimos nosso conhecimento é o que faz a diferença: “Feliz aquele que ensina o que faz e faz o que ensina”. E ainda em tempo: “Ouvir, ousar, fazer e calar!

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O conhecimento humano é eternamente expansivo tanto como é imperfeito e limitado por mais que ainda venha a avançar. Defendo a simplicidade e profundidade “do” e “no” Tarô. Mas aprendi que cada qual endireita suas veredas ao seu gosto e possibilidade, gerando e gerenciando então seu próprio destino e comprometimento com Ele ou o que pense ser Ele. Assim o faço e repito: Não temo mudar de opinião ou paradigma se me comprovado for que algo pode ser melhor ou se estiver indo por vias inadequadas ou equivocadas.

Quem pode estar absolutamente certo de algo neste mundo? Ou ser detentor da Verdade? Mas não inviabiliza buscar andar-se Nela, se o desejar e estiver preparado. Mas “despotismo intelectual” é de lascar! Talvez ainda engatinhemos pelo conhecimento do Tarô em si... tenho uma questão muito simples: por mais que saibamos que ele dá certo, eu ainda não sei por que Ele dá certo!

Discernir sua abrangência e possibilidades, dirimir as limitações, compartilhar com aquele que sintoniza com esta busca é parte de uma filosofia de vida que procuro por em prática para benefício meu e daquele que me procura como Taromante e Tarólogo. Até o momento os resultados têm agregado expansão e satisfação significáveis.

É prazeroso e gratificante para mim, não importando em que tempo ou momento, pois faz jus o buscar e assim o continuar da jornada. Em meu senso autocrítico conheço bem a periferia da minha ignorância e o cerne das minhas limitações e imperfeições. As quais insisto em sanar balsamicamente com fé, estudo e prática.

Não me servem mais os sofistas com seus arautos amargos e rancorosos, conheço hoje suas faces tristes por de trás das máscaras caiadas e armaduras ruidosas de auto-suficiências e auto-indulgências. Depois de alguns desenganos, tornei-me imune aos cantos e encantos dessas sereias de discurso fácil e doce, e para Você que teve a paciência de ler até aqui, afirmo e reitero:

Sei muito bem onde amarrei a minha égua até o momento, o custo da estaca e o peso do capim. Ser adivinho com esta ferramenta é uma satisfação! Mesmo que esta seja apenas minha. Não quero empurrar ou vender um conceito ou outro, mas busco pretensiosamente com toda a verborragia aqui contida, que os leitores deste Manifesto, façam suas avaliações, reflitam e concluam... o que quer que seja!!!

ARIEROM SALIK
Taromante Diletante & @Herege Emergente



2 comentários:

  1. PERFEITO! Apenas um adendo, se me permite, para os que não estão muito familiarizados com a Língua Mãe: DIVINAÇÃO é sinônimo de ADIVINHAÇÃO. Muitos dos que pretendem auferir significado suntuoso à palavra DIVINAÇÃO, desconhecem que o ato de se querer tornar algo DIVINO é "DIVINIZAÇÃO". No mais, apenas mais um herege seguidor!

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  2. Lord Roger,

    sempre bem-vindo! Bom acréscimo, e ainda há uma meia dúzia de três ou quatro filhos da boa Língua Mãe que cismam que são divinizações em divinação... =/

    []'s Geraes!

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