segunda-feira, 1 de junho de 2009

Um pouco sobre o Tarô


Já era conhecido no Velho Continente o aspecto oracular rudimentar com cartas de baralho desde o século XVI. O Tarô, composto de 78 lâminas teve sua estrutura - nome e numeração (signos) - como é encontrado atualmente, no decorrer do século XVII. É neste período que surge na França o termo “Tarot”. A confecção e comércio eram tributados por governantes já no período e sobre rigorosa aprovação para se tornar um Oficial Artesão de Cartas.

No século XVIII o nome “Tarot” se difunde pela Europa com estrutura similar ao nosso conhecido “Marselha”. Neste período a Taromancia dá mais sinais de existência e prática.

O Pastor Antoine C. Gebelin (1775) em singular lampejo enfatiza a origem do baralho em alguns minutos, durante visita a uma cartomante, e leva depois anos construindo compêndios, embasado no seu conhecimento sobre mitologia antiga - distante do que se percebe hoje por Tarologia; sem fundamento histórico científico, como ficou comprovado quando Tom Champollion Hanks decifrou o “Código Rosetta” (1824).


Nessa altura o bom Gebelin jazia famoso em paz. Graças a ele a sorte do Tarô foi lançada literalmente no meio erudito, e mesmo depois de desmistificado, permaneceu no gosto do imaginário popular. Porém sucessores aproveitaram o mote para dar uma origem não européia medieval ao Tarô, segundo suas sapiências.

Um contemporâneo de Gebelin; Etteilla ou Alliette para os íntimos, iniciou a prática de aulas particulares de Tarô, sendo assim o primeiro instrutor da história e quebrou paradigmas por ser um homem a deitar cartas publicamente. Uma santa pessoa, comentavam. Escreveu e desenhou “Tarots” a seu gosto e conveniência que lhe garantia uma qualidade de vida na Paris pós-revolução de causar inveja aos aristocratas que ainda mantinham suas nobres cabeças presas ao pescoço.
Etteilla Tarot Grand Ettelia
Imagens: Book of Thoth EtteillaTarot - Lo Scarabeo | Grand Etteilla Egyptian Gypsies Tarot - Grimaud


Segundo uma Dourada Amiga; entre os ciganos os homens se dedicavam ao estudo da cartomancia e as mulheres apenas a prática dos sortilégios.

Já no século XIX que a coisa tem um up grade considerável em sua história, mas também é de lá a balbúrdia que ainda nos assola indiretamente, mas sem a qual nada do que fazemos hoje faríamos... Males necessários? Necessários foram, mas não tão mal assim.

Ocultistas, esotéricos e místicos na segunda metade dos oitocentos têm suas atenções voltadas ao baralho, laboram teses e mais teses para justificar suas tardias curiosidades sobre o oráculo tão menos-prezado séculos anteriores pela classe. Matizes cabalísticos, alquímicos, astrológicos e outras tags nem tanto esotéricas pululam entre esotéricos formadores de opinião no intuito que pujassem a dos confrades no eixo Paris – Londres - Nova York.

Cada qual reinventa a roda - não a do Arcano X - para dar aquela nuance de mistério, importância e intelectualidade mística ao dito cujo. Cada um querendo enfeitar o pavão melhor que o outro. Ainda há publicações reeditadas, e ouvem-se cantilenas fantásticas de causar certo efeito mágico a ouvidos desinformados. Confesso que também ouvi com ar atento e solene algumas delas, e hoje, com sete anos de estudo sei que não é bem por aí. Ousei buscar.

Hoje entendo como informação histórica que estes fatos e personagens devem ser estudados e comentados. Pois mesmo na escuridão da desinformação buscavam e buscavam. Não desprezo esta sede de entender nosso fascinante oráculo. Sinto o mesmo, mas em suas épocas de onde tirar o que não se sabia? Cada qual se inspirou no que havia em mãos pecando por excessos idílicos ou santificando pela obstinada busca. A resposta tinha que estar em algum lugar.

Ainda no século XIX o termo Arcano é cunhado para as lâminas. Nomes de peso na área esotérica dão seus “pitacos” – Eliphas Levi, Papus, MacGregor Mathers que, aliás, foi o responsável por introduzir e associar o Tarô a uma ordem esotérica em 1888. Termos como Tarô iniciático, esotérico, cabalístico, egípcio, astrológico, numerológico, adivinhatório, tutu a mineira surgem e querem ser uma coisa diferenciada e diferente para a mesma coisa no fundo de tudo: Tarô. Sabido é que existiam em solo brasileiro cartomantes no século XIX.



É no século XX que o Tarô se direciona como verdadeiro oráculo. Com outras vertentes variegadas em seu uso e aplicação, alegadas não adivinhatória. Um paradoxo entre discurso e prática a meu ver.

E o brasileiro de alma mística, vê no final da década de 30 o lançamento do primeiro livro sobre Tarô, pela Ed. Pensamento “Tarô Adivinhatório”. Uma compilação de traduções de alguns autores estrangeiros realizadas pelo editor, abordando a cartomancia, mas sem grandes alardes entre os leitores de então. Ainda é reeditado.

Nos anos 70 sobre os reflexos tardios da década anterior o New Age tupiniquim se manifesta, com amplitude via satélite nos 80, e um caos que parece querer reordenar-se nos anos 90 em estilo suntuoso, mas excessivo, chegando à década do século que estamos com um divisor de águas no ano de 2000 com o lançamento do Volume l da trilogia: Estudos Completos do Tarô - "Tarô, Ocultismo & Modernidade" por Nei Naiff.

Se desde o século XVI o interesse mercantilista já era evidente, agora a coisa tomou rumos estranhos que tem bem a cara do globalizante século XXI. Com as facilidades da computação gráfica e o sapiente Google como fonte de pesquisa e referência.

Certamente deve ser um bom negócio, pois editoras especializadas, autores, artistas gráficos e “revendas autorizadas” criaram seu lugar ao largo do Arcano XIX. Mas sem levar tanto em conta a essência única dos Símbolos que conceituam um Arcano em algumas porções editadas.

Verdadeiras obras de artes com beleza e inspiração criativa dignas de exposição, mas infelizmente decompondo ou mesmo aniquilando nos ornamentos e emblemas acrescentados e/ou suprimidos da estrutura do conjunto tradicional, desfigurando a mensagem simbólica original e pertinente ao Arcano que diz representar.

Atenção ao escolher seu conjunto para estudo e prática! Ao iniciar prefira um conjunto básico, mais clássico para então seguramente usar qualquer um mais adiante.

Não desmereço as composições mais recentes que pude ter contato, mas o simples fato de terem similitudes com um conjunto de Tarô, mas deformados pelo requinte não Simbólico e Esotérico, seria de bom tom não levassem a mesma alcunha. O rótulo “Tarot” tem um apelo muito forte, haja vista que existem até “Motel Tarot”, e por aí vai...

Resumindo temos na atualidade, três áreas de cobertura e aplicação para o Tarô: Esotérica – metafísica e mística; Autoconhecimento - estudo e meditação e a minha predileta: Oracular - orientação pessoal e previsões.

Há jargões usados no Tarô, com raízes em outras áreas do conhecimento humano, que passam um entendimento e jeito próprio até, mas temos que ter muito cuidado e atenção ao empregá-los. Há termos “démodés” que cairiam melhor que alguns cientificismos de certas falas e escritas encontradas no mercado de consumo.

Tarô é Tarô, um alfabeto simbólico estruturado subdividido em duas porções distintas: 22 Arcanos Maiores e 56 Arcanos Menores que tem um poder de ler e apontar na alma de quem o procura, o que há ou não dentro e fora do livre arbítrio, e do desconhecido destino que envolve uma questão ou aspectos gerais do consulente.


Então temos a Tarologia como estudo de suas origens, história e mitos dando ênfase com a Simbologia. Dentro dela vem a Taromancia que é seu trato mais conhecido e antigo que nos auxilia na prática oracular por assim dizer. Mas de que maneira? Via outra vertente ainda mal compreendida e entendida:

Metodologia, estudo dos métodos, suas estruturas e regras de aplicação, que serão alvo de futuras reflexões heréticas deste taromante diletante.

Fonte de consulta: Tarô, Ocultismo & Modernidade – Nei Naiff - Ed. Elevação 3ª edição-2002

8 comentários:

  1. Well, não é porque não acredite que não seja real, ou não.

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  2. @joselito

    grande verdade e sábia também!

    Abraços.

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  3. Oi Arierom, boa tarde!
    não acredito em qualquer mecanismo de previsão do futuro, mas adorei a aula sobre tarô...
    Parabéns pela explicação e pelo blog.
    abrs

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  4. @Ana

    mesmo que o foco seja a "adivinhação" como um todo, ela não se prende se fatos A, B ou "X" possam ocorrer ou não.
    O melhor que há numa consulta de qualquer natureza, a meu ver; é a orientação e os conselhos que podem direcionar nossas ações.

    "O grande lance do futuro é que ele muda cada vez que você olha para ele; justamente porque você olhou para ele… e isso, muda todo o resto." (do filme: O Vidente)

    Abraços e volte sempre ;)

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  5. O post é antigo, mas como voltei recente pra internet, vi só agora. Faço uma ressalva a toda "parafernalha" das Ordens do século XIX. Se não fosse a insistência de Mathers em introduzir o Tarot na Golden Dawn, com certeza não teríamos visto os baralhos de Waite e Crowley.

    Então, com ou sem "tutu à mineira", sua contribuição foi imprescindível para essa divulgação do Tarot nos dias atuais.

    Se ouve falar muito mal deles, mas um estudo aprofundado e bem informado sobre as práticas da Golden Dawn demonstram sua seriedade.

    Ainda assim, Tarot era só um jogo, quando foi criado. Portanto, tudo acerca dele é atribuído, inclusive sua gama tão vasta e intrínseca de significados.

    Então para que serve limitar se Tarot é isso ou aquilo? O importante é que nos identifiquemos com algum conteúdo e o sigamos. Sem fronteiras ou limitações de pensamentos. Tudo é válido e talvez se não fosse essa "globalização", não teríamos acesso a esta ferramenta tão importante para nós, tarólogos.

    Visto a própria dificuldade de conseguir baralhos em meados dos anos 90. E ainda continua, algumas versões só mandando vir de fora! Salve o Deus Google que nos permite pesquisar!

    Então, nem que seja Cláudia ou Contigo ou "Maria Clara" ou Bom Astral ou qualquer coisa que seja, desde que faça referência, vai despertar o interesse de quem tiver olhos para ver!

    Abraços e grato pelo post!

    Adash

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  6. @magododestino,

    raro foi o desbravador de veredas que depois andou por elas. Inúmeros famosos e anônimos contribuiram para o Tarô chegasse onde está, como outros tantos ainda impulsionarão de várias maneiras para que ele siga na história humana.

    Os meios não tão esotéricos assim que de alguma forma divulgam nossa arte ainda carecem, em alguns casos, de "retoques" para que não fique aquela sensação de ser uma mera curiosidade ou futilidade. Pois não se trata daquilo que entendemos de informação e conhecimento por nossas práticas, mas o que infelizmente daquilo que chega ao grande público de forma distorcida e por vezes tosca, apenas para vender mais sem o comprometimento com a essência que entendemos ser básica.

    O bom de tudo é que o velho baralho após séculos, ainda cativa a alma humana; em seus operadores como no imaginário da sociedade moderna.

    Creio que nós passaremos e o Tarô ainda persistirá outros tantos séculos.

    Grande abraço, caro Adash, e obrigado pelo belo comentário contribuidor!

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  7. Muito bonito o comentário! Gostei!

    O que me incomoda é ver as pessoas gostarem de Waite ou Crowley e não saberem nada de Mathers. De se admirarem com tais Tarots, usá-los e desconhecer a história por trás da história. Sendo que o próprio Crowley, por mais que tivesse horrores de desavenças pessoais com Mathers, no Livro de Thoth publicou que considerava Mathers um gênio.

    E entro num contexto nem tão esotérico. No contexto humano. As ricas figuras ilustradas de Waite e Crowley tem simbolismo no Livro T, que foi escrito pelo Mathers. Hoje sabemos que os manuscritos eram uma fraude e tudo ali na GD foi criação dele. Então, por que não estudarmos a fundo o contexto histórico e reconhecer o "camarada"?

    O Tarot é inexplicável em palavras. Só vivendo ele e sendo um "VIAJANTE" dele é que temos um pouco de noção do quão grandioso é. E que seja assim, que perdure esta Arte!

    Como disse meu novo amigo, o Leo Dias, as pessoas passam. Mas o Tarot fica!

    Grato por compartilhar!

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  8. @magododestino,

    hoje temos nas livrarias, como na internet, uma fonte de pesquisa que ajuda o entendimento histórico. Porém toda esta facilidade não se compara a quem vivenciou a atmosfera de uma escola de mistérios, seja ela qual for.

    Como podemos escrever incontáveis artigos sobre o Tarô, mas sem dúvida, só quem estuda e se aprimora tem melhor noção e discernimento de sua abrangência. Mas a pressa é um veneno para o crescimento espiritual, e Tarô não é um saber instantâneo solúvel em água, mas um estudo para a vida inteira...

    Obrigado pelo agregado enriquecedor de seu comentário.

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